2 de dezembro de 2009

Variações sobre um mesmo tema

Alice conheceu Renato e se apaixonou. Renato era alto e forte, apesar de meio burro. Mas sua falta de inteligência era compensada pelo romantismo. Ele mandava mensagens no meio da noite, flores no meio da tarde, e a acordava com muitos beijos e muito carinho. Era tudo perfeito. Mas alguma coisa aconteceu e Renato ficou distante. Ele não ligava mais, não mandava mais presentes, até os beijos perderam a intensidade. Era como se a paixão tivesse esfriado e o amor tivesse acabado como o leite em pó de uma lata. Alice então chorou. Chorou tanto, que seu travesseiro mais parecia uma esponja. Ela prometeu que não amaria novamente, até que

Alice conheceu Paulo e se apaixonou. Paulo também era alto, mas era muito magro. Sua falta de músculos, entretanto, era compensada pela alegria contagiante que ele expirava. Com Paulo, mesmo nos dias mais cinzas e mais tristes, havia sempre razão para sorrir. Ele fazia surpresas e a levava ao parque. Eles comiam algodão doce, pipoca, chocolate, maçã-do-amor, e voltavam para casa rindo da imensa vontade que tinham de vomitar um no outro. Era tudo perfeito. Mas alguma coisa aconteceu, e o sorriso de Paulo foi minguando. Ele já não fazia piadas, eles não já não faziam passeios divertidos, nem comiam mais doces juntos. Era como se a paixão tivesse morrido, e o amor se escondido atrás de uma nuvem escura que não chovia nunca. Alice então gritou. Gritou tanto que perdeu a voz, mas prometeu, em silêncio, que não se envolveria com mais ninguém, até que

Alice conheceu José e se apaixonou. José era um rapaz humilde, vindo do interior. Era baixo, meio entroncado, mas tinha força e inteligência. Eles estudavam juntos a tarde inteira, e era tão bom que parecia que tinham passado a tarde fazendo sexo. Era uma espécie de orgasmo mental. Ele tirava todas as dúvidas dela, e quando as notas eram boas, ambos eram recompensados com beijos, abraços e amassos de tirar o fôlego. Era tudo perfeito. Mas alguma coisa aconteceu e José mudou. Ele agora dizia que preferia estudar só, porque aprendia mais; também não tinha paciência para tirar dúvidas, e se não havia notas boas, não havia recompensa. Era como se a paixão tivesse fugido do coração atrofiado pelo crescimento do cérebro. Alice então sofreu. Sofreu dias a fio, mas prometeu que seria a última vez, até que

Alice conheceu Gabriel e se apaixonou. Gabriel era evangélico fanático, andava sempre com a bíblia embaixo do braço. Mas seu dinheiro compensava qualquer infortúnio causado pela promessa de virgindade. Ele a levava para os restaurantes mais caros da cidade, e enviava vestidos, sapatos e colares dos mais variados tipos, para que ela usasse em seus encontros, enquanto uma orquestra particular tocava para eles uma serenata. Era tudo perfeito. Mas alguma coisa aconteceu, e Gabriel ficou diferente. Ele passou a reclamar dos gastos, e fazia pregações diariamente, tentando encaixar Jesus em suas vidas. Era como se Jesus jogasse água na paixão toda vez que ela esquentava. Alice então rezou. Rezou muito para que Deus a poupasse de mais uma desilusão, e prometeu jogar São Pedro no lixo, até que

Alice conheceu Adamastor e se apaixonou. Adamastor, de feio, só tinha o nome. Ele parecia um Deus grego, um galã de novela recém saído da revista caras. Era o sonho de qualquer mulher, e era uma máquina na cama – e na mesa, no chão, na parede, no balcão, e etecetra e tal. Era tudo perfeito. Mas alguma coisa aconteceu: Adamastor conheceu Gabriel e se converteu. Agora não tinha mais sexo, nem abraço e nem mesmo beijo, porque ele estava em fase de purificação. Era como se a paixão tivesse sido enviada para queimar no fogo do inferno por algum pecado que cometeu. Alice então ficou irada. Ficou irada e abandonada, enchendo a cara de cachaça e vomitando pela casa, mas prometeu que assim o porre acabasse, entraria num convento. Até que

Alice conheceu Penélope, irmã de Renato, ex-namorada de Paulo, vizinha de José, da igreja de Gabriel e conhecida de Adamastor. Penélope era feia e chata: tinha cabelo estirado, dentes tortos, barriga de cerveja, hálito de cigarro e papo de gente bêbada. Mas Alice se apaixonou.

32 comentários:

César Schuler disse...

Penélope devia ser sexy.

Natália Corrêa disse...

Ela definitivamente não era =P

César Schuler disse...

*subverter a gramática para alcançar algum objetivo estético em um texto é o primeiro sinal de que alguém é um escritor genial (:

Lucas disse...

Penélope era sexy de um jeito meio Chuck Noris, eu acho.

Luna disse...

Alice tinha o dedo podre. e se apaixonava como num piscar de olhos.

que nem eu.

Anônimo disse...

Conheco uma Alice.

Pâmela Marques disse...

E Alice é bem parecida comigo, no quesito decepções amorosas. Também namorei um Adamastor que só tinha feio o nome, rs. Ele me largou porque não quis apresentá-lo aos meus pais, é, sempre tive medo desse dia. Então, hoje Adamastor conheceu uma menina que topou em levá-lo a sua casa para conhecer seus pais, eles se casaram.
E eu? Bom, me conformei. Ele não era o meu príncipe encantado, rs.
Adorei o texto Natália. Você é ótima. E tudo que tu fazes me inspira também.

Pâmela Marques disse...

Psiu...
Sabe, eu não consigo parar de falar sobre o amor, rs. Então, eu escrevo também no Escreva-me cartas. Dá uma olhadinha lá também, talvez você goste.


Beijo gata =*

Erica Vittorazzi disse...

Adorei a história. E isto acontece muito mais frequente do que pensamos....

CL disse...

Até que ela se cansou das decepções provocadas por homens e foi procurar saber até que ponto mulheres são diferentes.

E eu adoro esse nome, Alice...

Matheus Sobral. disse...

O amor não é tão óbvio quanto parece. As vezes ele vem certo, por linhas tortas xD

Danilo Augusto disse...

Até que...

Ahh, Natália,
Mesmo quando foge do óbvio e vida nunca para.
............................

Percebi um final inspirado na "Quadrilha" de Drummond.
Não entendi o porque do nome "Adamastor". Séria por uma fúria sexual?

Mas é um ótimo texto.
E quanto a você ser poeta ou não eu digo o seguinte: Seus textos são, realmente, literatura, e quando eu digo literatura eu me refiro à Arte.
Claro que, assim com eu ( assim como todos nós). Sua literatura ainda vai amadurecer muito e se aprofundar em coisas que você ainda nem sonha que existem. (Assim espero).
Mas você deve saber o que eu digo. Ler literatura é muito diferente de ler a esmagadora maioria de textos divulgados, que parecem apenas reproduções, apelos, metáforas óbvias. Que no final não dizem nada.

Olha, também sou vestibulando!
É porque tranquei o meu curso na UFBA e estou prestando Est. Literários na Unicamp e R.I e UFRJ.
Deseje-me sorte, O Enem é nesse sábado.
Mas é nem...

Boa sorte para você,

Danilo Augusto


Ps: Andou pondo meu nome no Google, foi?

The Owl disse...

Penélope aparentemente não tem nada que compense os defeitos...Deve dar certo :D

Tiago Fagner disse...

Ela se apaixounou pelo nome, Penélope é lindo. Eu nem vou te elogiar porque já está fincando redundante. Mas me faz um favor, escreva um livro?!

Tiago Fagner disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tiago Fagner disse...

PS: 40 dedos! Eu nunca liguei muito para os pés, tenho que te confessar... Talvez eu não tenha descuberto sua utilidade ainda!
Bj moça!

Tiago Fagner disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Glaucovsky disse...

A alice se apaixona facil mesmo! Eu por exemplo so me apaixonei uma única vez.

Não importa disse...

Adorei essa história, mt criativa com final surpreendente!

Maria Midlej disse...

E não é bem assim que a história de todo mundo é construida? Cheia de ''nunca mais'' e ''até que'' 'sss :)
Alice é uma figuuuraaa. E o final, como sempre, surpreendente.

Natália eu estou virando sua fã de certeirinha. Jeito único de passar as coisas. Gosto. Gosto muito.

Érica Ferro disse...

Não esperava por esse final.
Gosto de coisas assim, imprevisíveis!

E Alice, mais uma vez, se decepcionará.
Porque é assim que é.
Decepção atrás de decepção.
Okay, isso soou pessimista, hahaha.

Você é ótima, Natália.
Muito criativa.
Sou tua fã.

Beijo.

Pâmela Marques disse...

Moça,
Tu usas o Gtalk? Fico online o dia inteiro. Gostaria muito de estender nossa amizade além dos comentários.

Gosto de ti.

The Owl disse...

Bom, ok, mas vc vai ter que imitar meu modus operandi: sair pelada, enrolada em papel higiênico e gritando enfurecida..huahuaha.

Boa sorte no vestibular! :)

A Magia da Noite disse...

viver com paixão é apaixonar-se por tudo e por todos.

Eu, Thiago Assis disse...

adoro o nome Alice, acho lindo demais. se eu tiver uma filhA vou "brigar" com a mãe dela pra q esse seja o nome uhauhauhauhauhuhauha

essa tua Alice se apaixona fácil né?
seria quase uma "Quadrilha" do Drummond, excetuando, claro, que na poesia ninguem fica com ninguem... mas todos estavam interligados.
=]

eu gostei.

Luciana disse...

Minha nossa... :O

Charles Bravowood disse...

No começo eu tava sentindo nesgas de Alice em mim, pelo jeito como tudo era perfeito, mas depois, 'até que', fui vendo que a coitada já tinha azar, hein? quando surgiu Adamastor, pronto, achei que enfim ela ia se atirar e ter um final, mas aí veio Penélope, tão nada sexy, mas o amor é assim, né? Confuso e irracional!

Abração Naty.

Charlie B.

Tiago Fagner disse...

descoberto**********

Felipe disse...

Hahahaha! Sabe o que eu acho? Alice tem que mudar de turma, porque essa aí ela já pegou inteira e não deu certo.

carlos massari disse...

esse é o ciclo de sempre, de todas as pessoas. ficou engraçado, aqui!

Elizabeth disse...

Todo mundo já teve um momento Alice na vida. E sendo bem sincera, ela não teria encontrado Penélope se não tivesse encontrado todos os outros antes... tinha que ser assim, faz parte :)

P.S: minha amiga distróóói no blog!

João Marone disse...

Ei menina.
Duvido que você tenha 17 e poucos anos.
Acho que você tem 17 e muitos.
Mas o que importa?
O que importa é que você pensa, lê, escreve, surpreende e encanta.

Quem me segue (se perde comigo)