23 de fevereiro de 2009

com açúcar, com afeto

não há mal nenhum em sentir medo. O medo nada mais é que uma reação natural do ser humano quando se vê perante uma situação inusitada ou cujo final se desconheça. Mas qual seria a motivação da vida se nós soubéssemos como seria o futuro? O amanhã só a Deus pertence; não é isso que se diz? Então confie nele e caminhe pela estrada da sua vida sem se preocupar com os espinhos, porque você não está descalça e você não está sozinha. Eu serei seu anjo companheiro quando você precisar, e serei seus sapatos quando seus pés estiverem doendo. Mas mesmo que não houvesse eu, ainda haveria você, que tem uma força descomunal dentro do seu coração. Então não chore, bem meu, poupe suas lágrimas para os dias mais felizes que nós havemos de ver nascer (juntas).

para uma amiga atemporal.

21 de fevereiro de 2009

Cantiga de escarnio

Eu não sei porque cargas d’água as pessoas querem ser todas iguais umas as outras. De repente, todo mundo tem os mesmos gostos, todos os gostos tem um mesmo mundo. Havaianas, todo mundo usa. Itaú, com você em todos os momentos. Volkswagen, você conhece, você confia. Entretanto, ninguém escuta por aí frases como “saúde pública, todo mundo tem”, “segurança, você merece”, “educação para todos, conhecimento não tem preço”. Mas também... pra que todas essas coisas, não é mesmo? Pra que se preocupar com a maior parte da população que está dormindo nas calçadas e tomando banhos no canais? Ah, faça-me o favor... viva o lado coca-cola da vida! saia para beber com seus amigos descolados, compre um cigarro para poluir seus pulmões, gaste seu dinheiro com roupas e sapatos, mas não esqueça de botar a mão no joelho e balançar a bundinha, hem? Oh, desculpe, isso está ultrapassado! a moda agora é o creu, é abrir o som do porta mala e chamar a nega pra dançar, é aproveitar a fossa ouvindo aquelas músicas repetitivas que fazem do amor um lugar comum e rendendo lucros para o mercado de bebidas alcoólicas. A propósito, beba, beba muito, encha a cara, morra de cirrose hepática, mas não dirija, ok? porque números não mentem, e não pega bem todo mundo ficar sabendo que metade das mortes diárias do nosso país acontecem porque somos irresponsáveis o bastante para colocar cinco propagandas de cerveja a cada intervalo de sete minutos que você assiste na tv... e sabe como é, bêbado rende um lucro empurrado! Menos os bêbados pobres né? Porque esses só fazem lotar os hospitais públicos e dormir das paradas, importunando a população de respeito... esses podem morrer que ninguém vai nem sentir falta. Mas tudo bem, não se preocupe com isso, afinal, é carnaval! Vá dançar frevo até o sol nascer, subir e descer ladeiras... quem sabe assim você não faz um pouco de exercício físico? Mas não faça muito não, viu? Porque nós precisamos que você enfarte para que os médicos possam ganhar dinheiro salvando sua vida, senão precisaremos deixar as mulheres ainda mais paranóicas com seus corpos, para que imitem as celebridades e arranquem uma ou duas costelinhas para ficarem com cintura fina. Aliás, seja toda fina, hem? Porque a moda é ser magro. Se você não é, comece logo a vomitar depois das refeições, é tiro e queda! Melhor até que aquele shake que você comprou na propaganda da recorde. Comprem, trabalham, troquem seus carros, entupam suas veias, venerem seus ídolos, assistam novelas. Marchem, soldados, marchem! Que vocês são parte do nosso incrível exercito de alienados.

20 de fevereiro de 2009

nota:

quero quebrar as correntes do receio e enfrentar o exército da incerteza. não vou mais permitir que minhas emoções sejam minha fraqueza, e não farei do "o que eu tenho que fazer" um motivo para não fazer o que eu quero. meus sonhos serão minha espada, a perseverança o meu escudo. e você medo... que seja mudo, mudo, mudo.

destino.

O destino não toma decisões por ninguém, apenas oferece as opções. Mas ele também não admite trapaças. Se você escolhe um caminho, tem que ir até o fim... não vale parar no meio, não adianta voltar atrás. Nas páginas velhas e secas do livro da nossa vida, nossos passos são como letras e nossas escolhas são como nossa sombra ao meio dia: fogem pra debaixo dos nossos pés e andam juntinho com a gente, pé ante pé.

16 de fevereiro de 2009

crescimento exponencial do universo.

O espírito se arrepia quando o cheiro doce da sua pele se propaga no ar. Esse aroma trescalante que se entrelaça nos dedos da brisa e parte pela avenida, beijando rostos que não são meus.
Sinto então ciúme do vento que, a todo o momento, lhe rouba de mim. E que cruel é o tempo que, em outro momento, discorre sem contrição, apenas para que meus caminhos se percam dos seus.
O tempo tem mesmo esse mau hábito de passar sempre depressa quando a gente tá sem pressa. Ele faz isso de propósito. É um prazer sádico que ele tem. De ver fulano correndo atrás do vento, pensando que, com o tempo, se encontrará com Deus.
Mas a verdade é que fulano nem vai nem vem. Anda em círculos, quadrados e triângulos, mas anda sempre aquém. E espera a vida passar de trem pra levá-lo além desse céu negro, onde estrelas moram longe dos perigeus. Onde seu cheiro beija a flor, e beija-flor sou eu.

Lentes de aumento

Há dois anos, eu enxergava bem. Franzia um pouco a testa para olhar pra longe, estreitava um pouco os olhos para ler coisas muito pequenas, mas enxergava tudo. Eu até pensei em fazer um exame de vista, mas só porque vi uns óculos muito bonitos numa vitrine uma vez; ele tinha as hastes vermelhas e, se eu não me engano, um coração em auto-relevo na lateral. No entanto, como era de se esperar, acabei esquecendo dos óculos e nem fiz exame nem nada... acho até que encontrei algo mais interessante para gastar o meu dinheiro.
Um ano mais tarde, comecei a sentir fortes dores de cabeça. Eu ainda estreitava os olhos para ler, mas agora não fazia muito efeito; eu precisava caminhar para perto do escrito para enxergar melhor. Passei a sentar na primeira cadeira no colégio, e tive que começar a acordar mais cedo por isso, já que (é incrível como) todos querem sentar na primeira banca(!). Eu, sinceramente, não gosto muito; meu pescoço dói de ficar olhando pra cima, e os professores decoram suas feições e pedem seus cadernos emprestados para ver onde pararam na aula anterior. O problema eles nunca pediam o meu caderno quando a matéria estava em dia, mas bastava eu passar a aula escrevendo bobagens que me escolhiam... aposto como era de propósito! Mas isso não vem ao caso. Fato é que eu não agüentei sentar na primeira fileira por muito tempo, e como sentar mais atrás me custava um grande esforço ocular, eu acabei procurando um oftalmologista. Lembro até que o médico era super bonitinho, acho que era recém-formado, tinha olhos cor de mel-de-abelha e disse que eu era “muito esperta”. Não que seja o tipo de elogio que eu gosto de receber de alguém que acho bonito, mas ficou marcado. De qualquer forma, ele descobriu que sou míope; um grau pequeno, na verdade, era provável que nem me causasse nenhum desconforto, se eu não forçasse tanto os olhos, assistindo tantas aulas e passando tantas horas na frente de um computador. Contudo, não sendo o caso, ele me aconselhou o uso de óculos. No final de semana que se seguiu fui com minha mãe ao shopping... aqueles óculos que eu tinha gostado haviam sido vendidos e eu acabei comprando outros, também vermelhos, mas em vez de coração, eram orelhas do coelhinho da playboy da lateral. Não me deixei abalar por isso; estava na promoção e, com o dinheiro que economizei, comprei um livro novo para eu ler no ônibus e no elevador.
Bom, mais eu contei tudo isso só pra dizer que passei a enxergar bem melhor com os óculos. Tudo parecia mais claro, e os rostos das pessoas pareciam mais nítidos, os sorrisos mais brancos e, principalmente, as letras pareciam mais legíveis. Achei incrível quando eu consegui ler a mensagem que a nossa coordenadora sempre colocava na porta, mesmo sentada na última banca. A mensagem dizia: “é lindo um por-do-sol visto da praia, mas, mais lindo, é ver a trilha que você deixou na areia para vê-lo mais de perto”.
Às vezes a gente precisa de lentes de aumento para ver melhor as coisas, mas só descobrimos isso quando sentimos os sintomas da cegueira. Às vezes, é alguém do nosso lado que não tá vendo, e nós sabemos disso, mas não podemos emprestar a eles as nossas lentes de aumento, porque elas só fariam com que eles vissem as coisas de forma distorcida.
Cada um necessita de um grau diferente e cada um leva seu tempo para descobrir qual é. E vai ver você nem necessita! Vai ver é só vista cansada...

9 de fevereiro de 2009

Conversação

— Qual o melhor dia para morrer?
— Que papo fúnebre...
— É, ando meio assim.
— Porque?
— Não sei porquê. Qual o melhor dia para morrer?
— Não existe melhor dia para morrer.
— Como não?
— Não existe um dia bom para coisas ruins.
— Você gosta de ir ao médico?
— Não.
— Você vai?
— Vou.
— Qual o melhor dia para ir ao médico?
— Quando estou doente.
— Hm...
— O que?
— Não seria bom se um médico pudesse diagnosticar a morte?
— Não.
— Como não? Poderíamos fazer aquelas coisas que não fazemos por medo, ou por conveniência, ou mesmo por comodismo.
— Não precisamos estar morrendo para fazer essas coisas.
— Mas se fizermos vivos, podemos nos arrepender.
— Quem garante que não há arrependimento pós-morte?
— Hm...
— O que agora?
— Nada, estou só pensando no que você disse.
— Sobre o arrependimento pós-morte?
— Não, sobre fazer as coisas...
— Que coisas você gostaria de fazer?
— Não posso dizer.
— Porque?
— Eu perderia a coragem.
— Então não diga, faça.

[...]

— Você me beijou.
— Você disse para eu fazer.

[...]

— Você também me beijou.
— Foi...
— Você se arrependeu?
— Não.
— Que bom que não estou morrendo.

8 de fevereiro de 2009

C a t i v a r


O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)

"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"

6 de fevereiro de 2009

Francamente,

não existe felicidade absoluta. Existem bons e maus momentos, e isso é tudo. Afinal, como alguém pode se declarar feliz, se o mundo que o cerca está desabando? Hoje pode ser um desconhecido nos jornais, mas quem garante que amanhã não será você? A gente sempre pensa que as coisas ruins nunca nos alcançarão, até que um dia elas batem à nossa porta e roubam nosso chão, e roubam nossos planos, e roubam cada uma das estrelas que clareavam nosso céu. E quando você se dá conta, tudo que lhe restou foi o breu. Você sente frio, você sente medo. E o que fazer nessa hora? Você pode procurar a felicidade em outras pessoas, em outros lugares, mas uma voz no seu peito vai lhe gritar: porque? Se toda a sensação boa que esse estado de espírito lhe traz vai acabar um dia e lhe roubar tudo novamente? Aí está a resposta: não procure a felicidade. Contente-se com momentos bons. E quando a felicidade se for novamente, você poderá lembrar desses momentos como pedaços felizes da sua vida. Pedaços que ficarão na memória para serem relembrados pelo prazer de tê-los vivido um dia, e não pela tristeza de tê-los perdido.

(para um grande amigo)

4 de fevereiro de 2009

de veneta.

Hoje foi um dia estranho e tumultuado. Caminhei por tantas ruas, entrei em tantas lojas, passei por tanta gente, falei com tantos estranhos, sorri para tantos motoristas, atravessei tantos semáforos e, entretanto, não fiz nenhuma diferença. Nem para mim, nem para ninguém. Eu apenas me deixei embalar pelo chacoalhar monótono do ônibus, fixei o olhar num horizonte imaginário, e passei o dia alienada sobre qualquer acontecimento a minha volta. Não lembro de ter reparado em nenhuma pessoa especial, nem mesmo num rapaz mais garboso que me houvesse cruzado o caminho. Não ajudei nenhum senhor(a) a atravessar a rua e, por incrível que pareça, ninguém me pediu um trocado na parada, ninguém me vendeu uma pipoca doce na faixa de pedestres. Ninguém.
Sinto-me como se eu existisse, e só. Mas, sob o meu ponto de vista, existir não basta. É preciso coexistir. De que valem os sorrisos que se sorri automaticamente? São apenas reflexos espontâneos com os quais meu cérebro já está habituado; como desejar bom dia aos vizinhos, falar sobre o tempo com o porteiro e perguntar ao padeiro se o pão está quentinho.
Odeio essa sensação de saber o que vai acontecer comigo. Gosto de ser pega de surpresa pela chuva. Gosto de encontrar, por acaso, uma pessoa que eu não via há muito tempo. Gosto de receber uma ligação inesperada. E gosto até de perder o ônibus de vez em quando... É como se fosse uma prova de que eu ainda não sou dona do tempo, que eu ainda não posso controlá-lo. O que não é de toda verdade, contudo. Eu sei que, se eu ligar a televisão de madrugada, metade dos canais vão estar fora do ar, mas na globo passa desenho animado. Sei que, se eu sair de casa às 6:30h, chego rapidamente ao meu destino; mas que se eu esperar para sair às 7:00h, provavelmente pegarei um trânsito do inferno e me atrasarei. Sei que o restaurante em frente ao meu antigo colégio abre para almoço às 11:30 e renovam a comida de meia em meia hora, até às 13:30; depois disso você tem que se contentar com os restos. Eu sei que a agência de banco tem uma fila imensa depois das 14hs e que fecha exatamente às 16h; não importa se você ficou esperando até 15:59, se na sua vez estiver dando 16h, volte outro dia! Eu sei que às 19hs em ponto começa a “voz do Brasil” no rádio. Sei que minha locadora não fecha às 22h, como diz no folheto, mas às 22:30h. Sei a duração dos filmes que vou assistir, a duração das músicas que vou ouvir, sei que se eu extrapolar os 200 minutos que tenho direito para ligações interurbanas, a conta de telefone vai vir mais cara. E sei de tudo, porque tudo é previsível. Todos são previsíveis. Eu sou previsível.
Como eu disse, hoje foi um dia estranho. Acho que, afinal, não passo de uma espectadora; eu assisto da poltrona o show da vida passar e avançar rápidamente. E enquanto os protagonistas vão fazendo história, eu fico aqui, escrevendo para não ficar de fora.

Quem me segue (se perde comigo)