9 de fevereiro de 2009

Conversação

— Qual o melhor dia para morrer?
— Que papo fúnebre...
— É, ando meio assim.
— Porque?
— Não sei porquê. Qual o melhor dia para morrer?
— Não existe melhor dia para morrer.
— Como não?
— Não existe um dia bom para coisas ruins.
— Você gosta de ir ao médico?
— Não.
— Você vai?
— Vou.
— Qual o melhor dia para ir ao médico?
— Quando estou doente.
— Hm...
— O que?
— Não seria bom se um médico pudesse diagnosticar a morte?
— Não.
— Como não? Poderíamos fazer aquelas coisas que não fazemos por medo, ou por conveniência, ou mesmo por comodismo.
— Não precisamos estar morrendo para fazer essas coisas.
— Mas se fizermos vivos, podemos nos arrepender.
— Quem garante que não há arrependimento pós-morte?
— Hm...
— O que agora?
— Nada, estou só pensando no que você disse.
— Sobre o arrependimento pós-morte?
— Não, sobre fazer as coisas...
— Que coisas você gostaria de fazer?
— Não posso dizer.
— Porque?
— Eu perderia a coragem.
— Então não diga, faça.

[...]

— Você me beijou.
— Você disse para eu fazer.

[...]

— Você também me beijou.
— Foi...
— Você se arrependeu?
— Não.
— Que bom que não estou morrendo.

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Quem me segue (se perde comigo)