18 de junho de 2010

Mentiras

Verdade seja dita: eu gosto das suas mentiras.
Gosto quando você diz que eu sou linda, quando eu sei que você nem me vê. Gosto quando você diz que me entende, quando eu sei que você nem me escuta. Gosto quando você diz que me ama, quando eu sei que você não ama ninguém.
Então minta pra mim. Minta para que eu possa fingir que acredito, para que nós possamos fingir que somos felizes, para que, de tanto mentir, se torne verdade.

"A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer."
(Mario Quintana)

17 de junho de 2010

O sádico e a masoquista.


Da escuridão eu observo a fluidez lasciva do teu corpo e salivo pelo fulgor que teu olhar me nega. Por que tu não te entregas? Jamais te fiz nenhum mal que tu não desejasses ardentemente.
Teu perfume doce exala – em silêncio – as tuas vontades indecentes, e elas preenchem meus pulmões com teu saboroso tormento. Minhas unhas, enquanto abriam escaras na maciez da tua pele, fizeram pequenas incisões na tua alma, impregnando-a com o que (em mim) há de mais vil. Eu sei que a luxúria faminta corre em tuas veias, e o sangue que te rega é tão negro quanto o meu.
És, na verdade, minha mais pérfida vítima. Amordaças nesses lábios vermelhos palavras cálidas jamais proferidas, e escondes-se na tua face de anjo com sagacidade felina. Mas saibas, – eu enxergo através da tua retina a tua insaciável fome de dor. E é pensando no teu prazer que eu cubro teu corpo com minha fúria devassa, mentindo-te enquanto a possuo.

15 de junho de 2010

Les mots de tous les jours.

Eu não me apaixono subitamente. Não que eu não acredite em amores a primeira vista ou em predestinação; estou dizendo que esses amores apenas não funcionam comigo – provavelmente por minha culpa.  Sabe, não confio muito em meus olhos. Tenho olhos de criança, tipo aqueles olhos de desenho animado, que olham para o Pica-Pau voando pelo céu e imaginam ele deliciosamente assado em uma bandeja, cheio de legumes ao redor. Eu sou daquelas que olha para o garoto que ama e vê corações pipocando por todos os lados enquanto anjinhos tocam sinos sobre nossas cabeças, mas não é daí que eu tiro a certeza do meu amor (tampouco das tremedeiras nas pernas, da falta de palavras e de ar).
Eu sei que amo porque eu me importo. Eu sei que eu amo porque eu tenho vontade de brigar quando ele faz alguma coisa absurda que coloca em risco a própria segurança. Eu sei que amo porque de manhã, quando eu acordo, eu tenho vontade de ligar só pra desejar bom dia; e a noite, quando eu volto da faculdade, eu ligo pra saber se o dia foi bom e me interesso por cada suspiro que ele deu. Confesso que às vezes ligo só pra saber se ele sentiu saudade de mim, e às vezes deixo de ligar só pra ter certeza que a saudade dele é verdadeira, e espero ansiosamente o telefone tocar. Eu sei que amo porque quando eu vou ao shopping, comprar roupas pra mim, passo muito mais tempo na sessão de roupas masculinas, imaginando como ele ficaria lindo com aquela camisa ou aquele boné. Eu sei que amo porque quando converso com minhas amigas é só dele que eu quero falar. E sempre que a gente fica em silêncio eu tenho vontade de falar freneticamente sobre como eu adoro o som intercalado das nossas respirações – mas isso faria com que eu parasse de ouvi-las. Eu sei que amo porque quando ele me diz coisas duras, ou fala comigo de forma grosseira, meus olhos se encham de lágrimas imediatamente, mas eu tento disfarçar pra que ele não se sinta culpado, afinal, eu que sou sensível demais. E quando ele precisa de mim pra alguma coisa eu ganho meu dia apenas por pensar que – por um momento que seja – eu sou indispensável em sua vida.
Eu não me apaixono subitamente. Meu amor é construído dia após dia, como uma parede feita de tijolos. E chega um ponto que a parede está tão alta e tão forte que não há vento que balance, não há furacão que derrube. Somente a chuva lava a poeira e o cimento que escorreu, e meu amor fica brilhando como se passasse verniz.

Quem me segue (se perde comigo)