27 de fevereiro de 2011

Ela disse Adeus.

Now the deed is done
As you blink she is gone
Let her get on with life
Let her have some fun

Entenda, aparentemente, eu não mudei muito desde os dezessete. Ainda visto 38 e meus cabelos ainda são cacheados. Eu ainda assisto desenhos animados e gosto de passar horas no telefone. Ainda choro quando assisto Titanic, e fecho os olhos quando vejo Laranja Mecânica. Eu ainda releio os livros velhos e durmo virada para o mesmo lado.
Mas eu sei – e me pergunto se mais alguém sabe isso também – que já não sou a mesma. Pra começar, eu cresci 2 centímetros, haha. Ok, isso pode não parecer grande coisa, mas é que meu coração também cresceu – se dilatou com o calor de um novo amor, das novas (e já tão maduras) amizades. Acredito, porém, que não sou mais tão inocente. Sabe como é, depois de 6 assaltos a gente descobre que o mundo não é um quintal de casa, e depois de ter o coração partido tantas vezes, partir o coração de alguém é quase prazeroso. Eu disse quase. Chamem-me de sádica se quiserem, mas o que estou tentando dizer é que é assim que as pessoas se tornam amargas e rabugentas. Não é culpa delas. Neste mundo, viver é como tocar guitarra sem palheta - toca melhor quem tem calos nos dedos. E não pensem que eu sei tocar guitarra. Mas e daí? Eu também não sei viver (não tenho calos o bastante).
Pra saber que eu mudei, basta dizer que eu queria fazer medicina quando comecei esse blog. E hoje – eu não só já passei no vestibular – como faço jornalismo e estou imensamente feliz com isso. A gente faz planos e pensa que sabe qual caminho vai seguir, mas a verdade é que gente não sabe nada. Nunca sabemos quando haverá um atalho, uma bifurcação ou cruzamento que vai mudar o rumo das nossas vidas. E nunca sabemos quem seremos amanhã. Por outro lado, basta olhar pra trás pra saber quem fomos e quem não somos mais. E eu não sou mais a menina de dezessete e poucos anos.
Por isso, não é apenas de um blog que eu me despeço hoje, ou mesmo de um amigo fiel – e companheiro – que esteve comigo por quatro longos anos, suportando minhas felicidades efêmeras e minhas melancolias constantes. Hoje eu me despeço – e me disperso – de uma fase da minha vida. Um tempo que veio e passou, mas que não passou por mim em vão, passou comigo. Enquanto eu escrevia histórias inventadas, eu escrevia também a minha própria história. Em cada verso tosco, em cada parágrafo mal elaborado, uma peça solta do meu quebra cabeça, um degrau na minha subida – ou na minha descida, quem sabe. Em cada leitor um velho amigo.
Não pensem que vou deixar de escrever, eu apenas não me encaixo mais aqui. Vou entender se vocês não quiserem vir comigo pra minha nova casa, afinal, esta pessoa que eu me tornei pode não agradar a todos. Mas estarei com as portas abertas pra quem quiser conhecer o meu PLANETA DESORIENTADO, e agradeço de coração a todos que - alguma vez - já me se encontraram aqui.

20 de janeiro de 2011

O sádico e a masoquista - Segunda parte (ou Do outro lado)

Entro no seu jogo, mas não sei até que ponto você está jogando. Sei apenas que seus olhos lançam sobre mim o pecado e me contaminam. Você fere minha inocência e deflora meu pudor, impelindo ao meu corpo o desejo insano por seu desejo. E eu o invoco! porque – não posso resistir – gosto de vê-lo incendiar quando me vê. E eu o afasto! porque tenho medo que seu fogo me consuma, como o inferno um dia há de fazer.
Sua mão que me afaga também me apedreja¹. E sob a exigência do seu toque eu já não sei se me assusto ou me entrego. O eco do seu abraço se prolonga... Ora me protege, ora me ameaça, mas sua inconstância me atrai tanto quanto me repele, e eu permaneço enclausurada nessa prisão de enigmas. Os teus e os meus. Minhas verdades mudas e suas mentiras proferidas.
Ouço o chamado dúbio da sua voz enquanto durmo. Sinto uma brisa me beijar mesmo quando janela está fechada, e um arrepio me sobe em espiral. Você traz o seu olhar pra velar meu sono?
Acordo sobressaltada e me descubro ofegante. Olho pra parede e ele (seu olhar) está lá. Não mais em sua face pálida, mas tatuado nos meus olhos – como um papel de parede. Porque eu preciso que você me olhe.

¹ trecho original do poema "Versos Íntimos" de Augusto dos Anjos.

17 de janeiro de 2011

Melancolia

Se eu fosse noite
Hoje eu estaria nua
Sem lua, sem estrelas

As estradas estariam sem carros
As praças sem amantes
O horizonte sem cor

Meu céu estaria nublado
E minhas nuvens carregadas
Choveriam o meu lamento

O vento estaria parado
Os mares estariam opacos
Sem luz pra refletir

As ruas estariam sem postes
As mariposas estariam sem asas
E as casas, sem janelas

As donzelas estariam cansadas
De esperar, de sorrir
As crianças com medo de dormir

Se eu fosse noite
A escuridão seria tanta, mas tanta
Que os olhos deixariam de brilhar

O mundo inteiro seria um poço profundo
Toda dor fecunda
Toda alma imunda

Eu seria noite e o amor (em mim) se extinguiria
Amordaçado &  sufocado
Nesta melancolia amarga .

16 de janeiro de 2011

Caixa postal

Er, oi. Eu sei que não deveria ligar. Você já deve estar cansado das minhas crises, das minhas cobranças. Não deve mesmo ser fácil namorar uma mulher como eu – que tem surtos. Sim, eu tenho surtos! De ciúme, de saudade, de certeza. Mas hoje, meu surto é de amor. Hoje eu te amo mais que todos os nossos velhos hojes, e sei disso porque – pela primeira vez – te amo apesar. Apesar da sua distância. Apesar da sua frieza. Apesar do seu tom maçante de quem está louco pra desligar. Andei pensando... É muito fácil amar porquê. Porque você cuida de mim, porque você me sorri com ternura, porque você me respeita e me cura de todas as minhas ressacas morais. Mas amar apesar, esta sim é a verdadeira prova de amor. Então desculpa se estou ligado outra vez. Desculpa por lotar sua secretária eletrônica e por gastar seu sono com minhas mensagens no celular. Eu não queria ser repetitiva, não queria ser tão irritante. Mas é que eu tenho surtos, meu amor, tenho surtos de você.

Quem me segue (se perde comigo)