20 de janeiro de 2011

O sádico e a masoquista - Segunda parte (ou Do outro lado)

Entro no seu jogo, mas não sei até que ponto você está jogando. Sei apenas que seus olhos lançam sobre mim o pecado e me contaminam. Você fere minha inocência e deflora meu pudor, impelindo ao meu corpo o desejo insano por seu desejo. E eu o invoco! porque – não posso resistir – gosto de vê-lo incendiar quando me vê. E eu o afasto! porque tenho medo que seu fogo me consuma, como o inferno um dia há de fazer.
Sua mão que me afaga também me apedreja¹. E sob a exigência do seu toque eu já não sei se me assusto ou me entrego. O eco do seu abraço se prolonga... Ora me protege, ora me ameaça, mas sua inconstância me atrai tanto quanto me repele, e eu permaneço enclausurada nessa prisão de enigmas. Os teus e os meus. Minhas verdades mudas e suas mentiras proferidas.
Ouço o chamado dúbio da sua voz enquanto durmo. Sinto uma brisa me beijar mesmo quando janela está fechada, e um arrepio me sobe em espiral. Você traz o seu olhar pra velar meu sono?
Acordo sobressaltada e me descubro ofegante. Olho pra parede e ele (seu olhar) está lá. Não mais em sua face pálida, mas tatuado nos meus olhos – como um papel de parede. Porque eu preciso que você me olhe.

¹ trecho original do poema "Versos Íntimos" de Augusto dos Anjos.

17 de janeiro de 2011

Melancolia

Se eu fosse noite
Hoje eu estaria nua
Sem lua, sem estrelas

As estradas estariam sem carros
As praças sem amantes
O horizonte sem cor

Meu céu estaria nublado
E minhas nuvens carregadas
Choveriam o meu lamento

O vento estaria parado
Os mares estariam opacos
Sem luz pra refletir

As ruas estariam sem postes
As mariposas estariam sem asas
E as casas, sem janelas

As donzelas estariam cansadas
De esperar, de sorrir
As crianças com medo de dormir

Se eu fosse noite
A escuridão seria tanta, mas tanta
Que os olhos deixariam de brilhar

O mundo inteiro seria um poço profundo
Toda dor fecunda
Toda alma imunda

Eu seria noite e o amor (em mim) se extinguiria
Amordaçado &  sufocado
Nesta melancolia amarga .

16 de janeiro de 2011

Caixa postal

Er, oi. Eu sei que não deveria ligar. Você já deve estar cansado das minhas crises, das minhas cobranças. Não deve mesmo ser fácil namorar uma mulher como eu – que tem surtos. Sim, eu tenho surtos! De ciúme, de saudade, de certeza. Mas hoje, meu surto é de amor. Hoje eu te amo mais que todos os nossos velhos hojes, e sei disso porque – pela primeira vez – te amo apesar. Apesar da sua distância. Apesar da sua frieza. Apesar do seu tom maçante de quem está louco pra desligar. Andei pensando... É muito fácil amar porquê. Porque você cuida de mim, porque você me sorri com ternura, porque você me respeita e me cura de todas as minhas ressacas morais. Mas amar apesar, esta sim é a verdadeira prova de amor. Então desculpa se estou ligado outra vez. Desculpa por lotar sua secretária eletrônica e por gastar seu sono com minhas mensagens no celular. Eu não queria ser repetitiva, não queria ser tão irritante. Mas é que eu tenho surtos, meu amor, tenho surtos de você.

Quem me segue (se perde comigo)