16 de fevereiro de 2009

Lentes de aumento

Há dois anos, eu enxergava bem. Franzia um pouco a testa para olhar pra longe, estreitava um pouco os olhos para ler coisas muito pequenas, mas enxergava tudo. Eu até pensei em fazer um exame de vista, mas só porque vi uns óculos muito bonitos numa vitrine uma vez; ele tinha as hastes vermelhas e, se eu não me engano, um coração em auto-relevo na lateral. No entanto, como era de se esperar, acabei esquecendo dos óculos e nem fiz exame nem nada... acho até que encontrei algo mais interessante para gastar o meu dinheiro.
Um ano mais tarde, comecei a sentir fortes dores de cabeça. Eu ainda estreitava os olhos para ler, mas agora não fazia muito efeito; eu precisava caminhar para perto do escrito para enxergar melhor. Passei a sentar na primeira cadeira no colégio, e tive que começar a acordar mais cedo por isso, já que (é incrível como) todos querem sentar na primeira banca(!). Eu, sinceramente, não gosto muito; meu pescoço dói de ficar olhando pra cima, e os professores decoram suas feições e pedem seus cadernos emprestados para ver onde pararam na aula anterior. O problema eles nunca pediam o meu caderno quando a matéria estava em dia, mas bastava eu passar a aula escrevendo bobagens que me escolhiam... aposto como era de propósito! Mas isso não vem ao caso. Fato é que eu não agüentei sentar na primeira fileira por muito tempo, e como sentar mais atrás me custava um grande esforço ocular, eu acabei procurando um oftalmologista. Lembro até que o médico era super bonitinho, acho que era recém-formado, tinha olhos cor de mel-de-abelha e disse que eu era “muito esperta”. Não que seja o tipo de elogio que eu gosto de receber de alguém que acho bonito, mas ficou marcado. De qualquer forma, ele descobriu que sou míope; um grau pequeno, na verdade, era provável que nem me causasse nenhum desconforto, se eu não forçasse tanto os olhos, assistindo tantas aulas e passando tantas horas na frente de um computador. Contudo, não sendo o caso, ele me aconselhou o uso de óculos. No final de semana que se seguiu fui com minha mãe ao shopping... aqueles óculos que eu tinha gostado haviam sido vendidos e eu acabei comprando outros, também vermelhos, mas em vez de coração, eram orelhas do coelhinho da playboy da lateral. Não me deixei abalar por isso; estava na promoção e, com o dinheiro que economizei, comprei um livro novo para eu ler no ônibus e no elevador.
Bom, mais eu contei tudo isso só pra dizer que passei a enxergar bem melhor com os óculos. Tudo parecia mais claro, e os rostos das pessoas pareciam mais nítidos, os sorrisos mais brancos e, principalmente, as letras pareciam mais legíveis. Achei incrível quando eu consegui ler a mensagem que a nossa coordenadora sempre colocava na porta, mesmo sentada na última banca. A mensagem dizia: “é lindo um por-do-sol visto da praia, mas, mais lindo, é ver a trilha que você deixou na areia para vê-lo mais de perto”.
Às vezes a gente precisa de lentes de aumento para ver melhor as coisas, mas só descobrimos isso quando sentimos os sintomas da cegueira. Às vezes, é alguém do nosso lado que não tá vendo, e nós sabemos disso, mas não podemos emprestar a eles as nossas lentes de aumento, porque elas só fariam com que eles vissem as coisas de forma distorcida.
Cada um necessita de um grau diferente e cada um leva seu tempo para descobrir qual é. E vai ver você nem necessita! Vai ver é só vista cansada...

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