Hoje foi um dia estranho e tumultuado. Caminhei por tantas ruas, entrei em tantas lojas, passei por tanta gente, falei com tantos estranhos, sorri para tantos motoristas, atravessei tantos semáforos e, entretanto, não fiz nenhuma diferença. Nem para mim, nem para ninguém. Eu apenas me deixei embalar pelo chacoalhar monótono do ônibus, fixei o olhar num horizonte imaginário, e passei o dia alienada sobre qualquer acontecimento a minha volta. Não lembro de ter reparado em nenhuma pessoa especial, nem mesmo num rapaz mais garboso que me houvesse cruzado o caminho. Não ajudei nenhum senhor(a) a atravessar a rua e, por incrível que pareça, ninguém me pediu um trocado na parada, ninguém me vendeu uma pipoca doce na faixa de pedestres. Ninguém.
Sinto-me como se eu existisse, e só. Mas, sob o meu ponto de vista, existir não basta. É preciso coexistir. De que valem os sorrisos que se sorri automaticamente? São apenas reflexos espontâneos com os quais meu cérebro já está habituado; como desejar bom dia aos vizinhos, falar sobre o tempo com o porteiro e perguntar ao padeiro se o pão está quentinho.
Odeio essa sensação de saber o que vai acontecer comigo. Gosto de ser pega de surpresa pela chuva. Gosto de encontrar, por acaso, uma pessoa que eu não via há muito tempo. Gosto de receber uma ligação inesperada. E gosto até de perder o ônibus de vez em quando... É como se fosse uma prova de que eu ainda não sou dona do tempo, que eu ainda não posso controlá-lo. O que não é de toda verdade, contudo. Eu sei que, se eu ligar a televisão de madrugada, metade dos canais vão estar fora do ar, mas na globo passa desenho animado. Sei que, se eu sair de casa às 6:30h, chego rapidamente ao meu destino; mas que se eu esperar para sair às 7:00h, provavelmente pegarei um trânsito do inferno e me atrasarei. Sei que o restaurante em frente ao meu antigo colégio abre para almoço às 11:30 e renovam a comida de meia em meia hora, até às 13:30; depois disso você tem que se contentar com os restos. Eu sei que a agência de banco tem uma fila imensa depois das 14hs e que fecha exatamente às 16h; não importa se você ficou esperando até 15:59, se na sua vez estiver dando 16h, volte outro dia! Eu sei que às 19hs em ponto começa a “voz do Brasil” no rádio. Sei que minha locadora não fecha às 22h, como diz no folheto, mas às 22:30h. Sei a duração dos filmes que vou assistir, a duração das músicas que vou ouvir, sei que se eu extrapolar os 200 minutos que tenho direito para ligações interurbanas, a conta de telefone vai vir mais cara. E sei de tudo, porque tudo é previsível. Todos são previsíveis. Eu sou previsível.
Como eu disse, hoje foi um dia estranho. Acho que, afinal, não passo de uma espectadora; eu assisto da poltrona o show da vida passar e avançar rápidamente. E enquanto os protagonistas vão fazendo história, eu fico aqui, escrevendo para não ficar de fora.
Sinto-me como se eu existisse, e só. Mas, sob o meu ponto de vista, existir não basta. É preciso coexistir. De que valem os sorrisos que se sorri automaticamente? São apenas reflexos espontâneos com os quais meu cérebro já está habituado; como desejar bom dia aos vizinhos, falar sobre o tempo com o porteiro e perguntar ao padeiro se o pão está quentinho.
Odeio essa sensação de saber o que vai acontecer comigo. Gosto de ser pega de surpresa pela chuva. Gosto de encontrar, por acaso, uma pessoa que eu não via há muito tempo. Gosto de receber uma ligação inesperada. E gosto até de perder o ônibus de vez em quando... É como se fosse uma prova de que eu ainda não sou dona do tempo, que eu ainda não posso controlá-lo. O que não é de toda verdade, contudo. Eu sei que, se eu ligar a televisão de madrugada, metade dos canais vão estar fora do ar, mas na globo passa desenho animado. Sei que, se eu sair de casa às 6:30h, chego rapidamente ao meu destino; mas que se eu esperar para sair às 7:00h, provavelmente pegarei um trânsito do inferno e me atrasarei. Sei que o restaurante em frente ao meu antigo colégio abre para almoço às 11:30 e renovam a comida de meia em meia hora, até às 13:30; depois disso você tem que se contentar com os restos. Eu sei que a agência de banco tem uma fila imensa depois das 14hs e que fecha exatamente às 16h; não importa se você ficou esperando até 15:59, se na sua vez estiver dando 16h, volte outro dia! Eu sei que às 19hs em ponto começa a “voz do Brasil” no rádio. Sei que minha locadora não fecha às 22h, como diz no folheto, mas às 22:30h. Sei a duração dos filmes que vou assistir, a duração das músicas que vou ouvir, sei que se eu extrapolar os 200 minutos que tenho direito para ligações interurbanas, a conta de telefone vai vir mais cara. E sei de tudo, porque tudo é previsível. Todos são previsíveis. Eu sou previsível.
Como eu disse, hoje foi um dia estranho. Acho que, afinal, não passo de uma espectadora; eu assisto da poltrona o show da vida passar e avançar rápidamente. E enquanto os protagonistas vão fazendo história, eu fico aqui, escrevendo para não ficar de fora.
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