O vento leste soprava forte na orla. Um sopro gélido, perdido no mormaço habitual da cidade; no calor que irradiava do asfalto para o corpo dos que passavam correndo, para a vida, que comemorava o nascer de mais um dia.
Em algum lugar perto dali, ouvindo o som das ondas que iam e vinham [incansáveis], Zeca ensaiava um sorriso no espelho. Chegara enfim o dia em que declararia seu amor; o dia em que revelaria à Isabela o quanto seu corpo regia apenas com o rastro de perfume que ela deixava no elevador. Ele costumava inspirar todo aquele ar de uma só vez, e prendia-o em seus pulmões pelo maior tempo possível, imaginando que, de alguma forma, aquilo pudesse aproximá-los. Entretanto, daquela manhã em diante, Zeca esperava não ter mais que contentar-se com o ar viciado do elevador - ele queria mais. Queria poder respirá-la de pertinho, sentindo em si as vibrações do ar que passaria dela pra ele, num interminável fluxo de sensações. Ele queria beijar-lhe o pescoço e divagar pelas trilhas que seus lábios percorreriam até explorar-lhe todo o corpo. Ah, Zeca sonhara tanto com este momento, e agora, há instantes de seu triunfo, encontrava-se paralisado, pateticamente estático, ensaiando sorrisos.
Com um longo suspiro, o rapaz dirigiu-se à cozinha. Necessitava de um facilitador, um incentivo; algo que lhe proporcionasse toda a coragem que passara meses reunindo, mas que ainda não dispunha. Abriu a geladeira e retirou uma garrafa meio cheia de Uísque. Serviu-se de uma pequena dose e, em seguida, de outra.
Com o copo na mão, caminhou até a varanda. Ajeitou na parede o velho quadro de mosaico, que estava inclinado; e, de repente, cada fragmento de vidro [colorido] refletia a imagem desejada de Isabela. Ele desviou o olhar o apartamento dela, situado logo ao lado do seu, janela com janela. Odiou-se por amá-la tanto e não ser capaz de dizê-la o quanto. Odiou-se, e odiou-se tanto, que quis jogar-se lá de cima – do sexto andar – só para não ter que se odiar mais. No entanto, uma canção distante o impediu. Era uma sinfonia natural; vento, mar e sol, todos entoando uma cantiga suave, que lhe acalmou o coração. Seus olhos então correram pelo calçadão, pelas árvores, pelos ladrilhos do chão... e depois repousaram sobre um casal sorridente, que se beijava ao sabor daquela melodia.
Zeca então sorriu. Um pouco pra si, um pouco pra ninguém. Sorriu e jogou uma pequena pedra na janela de Isabela. Ele agora tinha coragem.
Em algum lugar perto dali, ouvindo o som das ondas que iam e vinham [incansáveis], Zeca ensaiava um sorriso no espelho. Chegara enfim o dia em que declararia seu amor; o dia em que revelaria à Isabela o quanto seu corpo regia apenas com o rastro de perfume que ela deixava no elevador. Ele costumava inspirar todo aquele ar de uma só vez, e prendia-o em seus pulmões pelo maior tempo possível, imaginando que, de alguma forma, aquilo pudesse aproximá-los. Entretanto, daquela manhã em diante, Zeca esperava não ter mais que contentar-se com o ar viciado do elevador - ele queria mais. Queria poder respirá-la de pertinho, sentindo em si as vibrações do ar que passaria dela pra ele, num interminável fluxo de sensações. Ele queria beijar-lhe o pescoço e divagar pelas trilhas que seus lábios percorreriam até explorar-lhe todo o corpo. Ah, Zeca sonhara tanto com este momento, e agora, há instantes de seu triunfo, encontrava-se paralisado, pateticamente estático, ensaiando sorrisos.
Com um longo suspiro, o rapaz dirigiu-se à cozinha. Necessitava de um facilitador, um incentivo; algo que lhe proporcionasse toda a coragem que passara meses reunindo, mas que ainda não dispunha. Abriu a geladeira e retirou uma garrafa meio cheia de Uísque. Serviu-se de uma pequena dose e, em seguida, de outra.
Com o copo na mão, caminhou até a varanda. Ajeitou na parede o velho quadro de mosaico, que estava inclinado; e, de repente, cada fragmento de vidro [colorido] refletia a imagem desejada de Isabela. Ele desviou o olhar o apartamento dela, situado logo ao lado do seu, janela com janela. Odiou-se por amá-la tanto e não ser capaz de dizê-la o quanto. Odiou-se, e odiou-se tanto, que quis jogar-se lá de cima – do sexto andar – só para não ter que se odiar mais. No entanto, uma canção distante o impediu. Era uma sinfonia natural; vento, mar e sol, todos entoando uma cantiga suave, que lhe acalmou o coração. Seus olhos então correram pelo calçadão, pelas árvores, pelos ladrilhos do chão... e depois repousaram sobre um casal sorridente, que se beijava ao sabor daquela melodia.
Zeca então sorriu. Um pouco pra si, um pouco pra ninguém. Sorriu e jogou uma pequena pedra na janela de Isabela. Ele agora tinha coragem.
7 comentários:
Salvamos uma vida. Zeca e Isabela estão felizes. Eu, muito mais.
quero que alguém salve minha vida também. Não tá totalmente perdida, mas quero que alguém me salve antes de me perder por completo!
muito lindo o texto viu? E eu vou sim, esperar o tempo passar, porque como dizem, o tempo é o melhor remédio!
Deixa ver se eu entendi... Zeca era um frouxo e virou macho quando viu o casal? HEUAHEUA.
Depois eu que sou insensível. ¬¬ HUSAHUSUHASUASHHUAS
nossa achei lindo isso! dali zeca!
Uísque não era afinal o incentivo que ele precisava ;) Vaí fundo zeca, ganha a garota!
E o incentivo o tomou. O pegou e lá se foi. Belíssimo texto. A vi lá no last.fm e a adicionei.
Beijo, querida!
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