22 de janeiro de 2009

Se o silêncio falasse,

seria como um sopro atônito de desabafo.
Um som sincopado disposto entre códigos e ecos, uma mistura de todas as mágoas antes abarcadas e absorvidas. Ele choraria a morte de todos aqueles que imploraram pela vida, naquele ultimo momento, quando a voz está cava e trêmula demais para ser ouvida, quando parece que há um bolo na garganta impedindo que o ar siga o seu fluxo inato.
Ele choraria a desilusão de todos os amores perdidos, que, mudos, foram se perdendo no tempo, entre os vilões da mentira e do egoísmo, que estão sempre a sussurrar ao ouvido dos mais fracos. Sussurros, embora baixos, são ouvidos; enquanto o silêncio, que não tem voz nem nada, resigna-se em apenas tocar nas almas, como dedos de seda resvalando pelo espírito. Alguns sentem o arrepio e entendem... outros, porém, colocam a culpa no vento que, às vezes, ressoa como trombetas para que o silêncio se sufoque no vazio da própria impessoalidade.
Ah, não deve ser fácil ser sempre impessoal e imparcial... ter que ficar sempre quieto e calado, como uma parede sem olhos nem ouvidos. Também não deve ser fácil ouvir os lamentos de todos sem nunca se queixar, sem nunca se lamentar também...
E se o silêncio já houver se apaixonado? Deve nos invejar, quando nos ouve declamar um poema, confessar uma paixão, cantar aquela musiqueta chata que, embora seja mesmo chata, nos lembra daquele velho amor de verão.
Se nos sentimos sozinhos, abraçamos o silêncio. Se estamos com medo, o acusamos de fúnebre. Se o barulho nos incomoda, clamamos por ele. E quando ele vem, o chamamos solidão...
Se o silêncio falasse, eu o ouviria quietinha, até que ele se cansasse e adormecesse em meus braços, assim como eu (tantas vezes) o fiz.

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Quem me segue (se perde comigo)